Arthur De Gobineau
Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas é, por razões absolutamente infelizes, uma das obras mais influentes do século XIX. Pressupondo as diferenças raciais como o motor da história, é desta obra que surge o mais acabado conceito de Ariano, as justificativas mais exaustivas para o suposto caráter naturalmente civilizados da raça branca, e o que seria o destino natural de inferioridade das demais raças, fossem puras, fossem mestiças.Não se trata de obra delicada na verdade, seu caráter absolutamente explícito, tem o poder de deixar os leitores enraivecidos pela linguagem racista que fundamenta toda argumentação. Fundado em um suposto eruditismo o texto é repleto de informações, notas, datas, locais geográficos, povos procura construir um verniz respeitável, científico, a um pressuposto bastante claro: a raça branca é a única capaz de erguer civilizações, e quaisquer misturas étnicas representa o fim de sua superioridade em direção a uma mediocridade apática.Seu autor, o diplomata francês Arthur de Gobineau (1816-1882), utilizou-se bem de sua experiência em diferentes países tanto para aprender diferentes idiomas, quanto para pinçar dados, das diferentes realidades locais, que confirmassem seus preconceitos. Gobineau atuou inclusive no Brasil, onde estabeleceu uma intensa amizade com D. Pedro II um relacionamento bastante valorizado na biografia de 1883 que precede à obra o que não cria um quadro nada simpático ao Imperador brasileiro particularmente em relação às suas concepções mais ou menos secretas a respeito das diferenças étnicas da população local. Leia o livro, e você também verá que não se pode ser amigo de Gobineau impunemente.Até então inédito em português, Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas é uma obra que deve ser lida pelo que revela do esforço das elites ocidentais, inclusive no Brasil, de garantir benefícios sociais a apenas um grupo selecionado da população, escolhido arbitrariamente em função da cor de sua pele. Trata-se de uma obra que embasa e justifica o ódio, a exclusão, o racismo, e inclusive as diferenças sociais. As teorias presentes em suas páginas foram utilizadas, por um sem número de pessoas, para a instituição de práticas e políticas de exclusão, muitas das quais ainda muito vivas em nossa realidade.